Gaivota - CIA BR 116

Gaivota

Gaivota
A peça de Tchékhov encenada pela trupe transpõe o palco para o meio do mato
+
Still de ‘Gaivota’ com Luiza Curvo e Matheus Campos, que interpretam Nina e Treplev.

Com direção de Gabriel Fernandes e Bete Coelho, que também interpreta Arkádina, a peça clássica recebe contornos brasileiros em nova adaptação para teatrofilme, linguagem que integra os formatos audiovisual e cênico.

Still de ‘Gaivota’ com os atores em cena.

Anton Tchékhov (1860-1904), autor que é figura central da dramaturgia do teatro russo, ganha uma versão inédita de um de seus clássicos, A Gaivota, interpretada pela Cia. BR116, que estreia no dia 12 de outubro de 2021 no canal do YouTube do grupo. Gaivota – sem o artigo “a” das traduções mais comuns – é a segunda empreitada cinematográfica da trupe que, ao longo da pandemia, tem se dedicado a testar os limites de coexistência entre o teatro e o cinema através de uma nova linguagem, o teatrofilme. A motivação para realizar a obra surgiu a partir da própria peça, no quarto ato, quando a jovem atriz Nina diz: “Eu tenho fé e não sinto tanta dor. E, quando penso na minha vocação, eu não tenho medo da vida”.

Still de ‘Gaivota’ com Luiza Curvo no papel de Nina

Pensar a vocação do artista, especialmente os que compõem o teatro, tem sido uma prática recorrente nas produções da Cia. BR116, que este ano celebra onze anos de trajetória. Além disso, os clássicos acompanham o desejo da companhia de estabelecer diálogos com assuntos urgentes ao debate contemporâneo. Em 2019, Mãe Coragem, de Bertolt Brecht (1898-1956), ganhador do prêmio Shell de melhor direção para Daniela Thomas, manifestou o desmoronamento dos valores políticos e éticos no país para mais de 8.500 espectadores. Em 2020, Medeia por Consuelo de Castro, o primeiro teatrofilme, buscou nas referências gregas clássicas reimaginar o conceito de tragédia nos dias atuais. Em 2021, a companhia fez uma leitura encenada de O Santo Inquérito, de Dias Gomes (1922-1999), ocupando fisicamente e simbolicamente o Theatro Municipal de São Paulo, para o festival São Paulo Sem Censura, contribuindo para a discussão e denúncia dos mecanismos de censura do setor cultural.

Still de ‘Gaivota’ com Bete Coelho no papel de Arkádina

Com a obra de Tchékhov não seria diferente. Símbolo do Teatro de Arte de Moscou, A Gaivota estabeleceu o dramaturgo em um período de grande agitação cultural na Rússia. Às vésperas da Revolução de 1917, o autor soube retratar a melancolia da época, colocar em cena os debates artísticos do período – entre o simbolismo e o naturalismo – e evidenciar a incomunicabilidade humana nas estruturas sociais. "Esta incomunicabilidade tem muita relação com a atualidade. Há um feitiço no ar em que ninguém se entende e todos vociferam", diz o diretor Gabriel Fernandes. Gaivota foi gravada seguindo todos os protocolos de prevenção à Covid-19 em um sítio em Itu, no interior de São Paulo, onde a equipe e o elenco ficaram isolados por cerca de 20 dias. A obra conta a história de um núcleo familiar e seus agregados, enfatizando o conflito entre Arkádina (Bete Coelho), uma célebre atriz; seu filho Treplev (Matheus Campos), que pretende ser dramaturgo e escritor; a jovem aspirante a atriz Nina (Luiza Curvo), por quem ele é apaixonado; e o famoso escritor Trigórin (Flávio Rochaa), companheiro de Arkádina. A eles unem-se Sórin (Marcos Renaux), irmão de Arkádina e dono da propriedade rural onde todos se encontram, o médico Dorn (Diego Machado), o professor Medvedenko (Murillo Carraro), a esposa do administrador do local, Polina (Muriel Matalon), e sua filha Macha (Viviane Monteiro). Na adaptação da Cia. BR116, com tradução de Marcos Renaux, a voz de Tchékhov (Luiz Frias) também se torna personagem, operando como uma espécie de criador que guia os pensamentos e os destinos das personagens.

Os encontros para realizar a montagem, antes pensada para o espaço físico, começaram em janeiro de 2020. No entanto, os ensaios presenciais foram suspensos dois meses depois com o início da pandemia da Covid-19. Na tentativa de não perder o contato e na esperança de retornarem, o grupo seguiu com encontros virtuais. Em junho, porém, com o avanço da pandemia, tudo foi paralisado: a Gaivota estava interrompida. O projeto só retornou em março de 2021 após a bem-sucedida realização de Medeia por Consuelo de Castro, primeiro teatrofilme da Cia. BR116 que definiu as características da linguagem criada pela trupe, na qual a empreitada cinematográfica acontece associada aos elementos que tornam o teatro vivo e real. É através da interpretação dos atores, da dimensão da palavra e da psique humana que os diretores passaram a conduzir a dramaturgia com a câmera.</p> <p>A experiência de Medeia foi fundamental para a realização de Gaivota, que conta com uma equipe maior e novas complexidades. O palco virou cenário e foi parar no meio do mato, invertendo o pensamento comum de colocar o campo e a natureza, onde acontece a peça, sobre o tablado. Se a obra de Tchékhov se passa no campo russo, a adaptação da Cia. recebe contornos brasileiros: é uma peça de terreiro e de bando. “Essa é mais uma Gaivota entre tantas bem sucedidas. Mas está imbuída de força artística brasileira e de beleza genuína no embate entre o novo e o velho, entre o ser e o não ser”, afirma a diretora e atriz Bete Coelho.

Montar Gaivota no Brasil de 2021 com suas especificidades evidenciou no elenco — formado por artistas de experiências distintas, incluindo atores não profissionais — uma atuação que os aproxima de suas próprias personalidades. “Os personagens surgem através de situações inusitadas, experimentadas num cenário antirrealista e de emoções focadas nas palavras e nos silêncios”, conta Bete.

Backstage das filmagens de Gaivota

Na montagem, a relevância das palavras e dos silêncios se torna mais evidente nas cenas em que a câmera está focada na expressão do ouvinte, e não daquele que enuncia a fala. A ausência da fala também foi um recurso utilizado pelos diretores para manipular a temporalidade da ação – ou da suspensão da ação, tão significativa na incapacidade de realizações e relações afetivas entre os personagens. “Frequentemente comunico aos atores um pensamento de François Truffaut (1932-1984) que sempre carrego comigo: os atores, e consequentemente as personagens, devem estar em um estado febril. O mestre queria que seus filmes parecessem ter sido rodados com febre de 40 graus. Em Gaivota, parti dessa premissa”, explica Gabriel. O resultado pulsante e vigoroso dos atores e da linguagem do teatrofilme em Gaivota vai ao encontro do histórico da Cia. BR116, que se volta a questionar a performatividade do ser humano e as estruturas sociais que ele mesmo cria para operar. No contexto brasileiro de desmanche do setor cultural e de desdém rancoroso ao artista e à sua função, as palavras da personagem Nina sobre sua vocação como atriz coroam o momento atual da trupe e intensificam nos artistas a força da fé no teatro brasileiro.

Texto
Anton Tchekhov

 

Tradução
Marcos Renaux

 

Direção
Gabriel Fernandes e Bete Coelho

 

Elenco
Bete Coelho
Luiza Curvo
Matheus Campos
Flavio Rochaa
Muriel Matalon
Diego Machado
Viviane Monteiro
Murillo Carraro
Marcos Renaux
Domingos Varela.

 

Voz do Tchekhov
Luiz Frias

 

Assistente de Direção
Theo Moraes

 

Direção de Fotografia
Rodrigo Fonseca e Gabriel Fernandes

 

Direção de Arte
Alice Tassara

 

Assistente de Arte
Murillo Carraro

 

Cenografia
Domingos Varela e Bete Coelho

 

Assistente de cenografia
João Carvalho

 

Cenotécnicos
Domingos Varela e João Carvalho

 

Figurino
Simone Mina e Carol Bertier

 

Visagismo
Gabi Moraes

 

Assistente de Visagismo
Daniela Gonc

 

Câmera
Rodrigo Fonseca e Gabriel Fernandes

 

Assistente de câmera, logger e making of
Eduardo Fujise


Edição
Gabriel Fernandes 


Correção de cor
Rodrigo Fonseca

 

Direção Musical
Felipe Antunes

 

Assistente de Direção Musical
Fabio Sá

 

Músicos
Fabio Sá
Felipe Antunes
Allan Abbadia
Rovilson Pascoal
Vitor Cabral
Wanessa Dourado
Yaniel Matos

Voz na música final
Heitor Frias

 

Música Original
Felipe Antunes e Fabio Sá

 

Captação de som direto
Bruno dos Reis

 

Microfonista
Bia Passeti

 

Gravação de foley
Bruno dos Reis e Adelmo Henrique

 

Desenho de som e finalização
Rovilson Pascoal e Bruno dos Reis

 

Estúdio de som
Parede Meia Estúdio

 

Preparação vocal
Cristina Mutarelli

 

Eletricista
Carlos Henrique Xavier de Souza e Natanael Paulo Augusto da Silva

 

Cozinheira
Cirlei Pereira Lopes

 

Costureira
Judith de Lima e equipe

 

Camareira
Stellinha

 

Diretor de Comunicação Cia. BR116
Maurício Magalhães

 

Comunicação Gaivota
Vilano Polido

 

Estratégia Digital, redes sociais e site
Fábio Polido e Rodrigo Avelar

 

Identidade visual
Fábio Polido


Imprensa e Redação
Rodrigo Vilano e Mariana Marinho

 

Foto Still
Rodrigo Fonseca

 

Assessoria jurídica
Olivieri Associados

 

Versão para o inglês e espanhol
Marcos Renaux

 

Legendas
Patricia Mara Penha

 

Estagiária
Flávia Teixeira

 

Elenco de apoio
Theo Moraes e João Carvalho

 

Cachorro do Sorin
Max (In Memoriam)

 

Dublê Nina
Muriel Matalon

 

Técnico de transmissão
Alexandre Simão de Paula

 

Assistente de Produção
Diego Machado

 

Dramaturgista
Marcos Renaux


Direção de Produção
Lindsay Castro Lima e Mariana Mantovani


Realização
Cia BR116

Patrocínio
UOL

Continue navegando pelos conteúdos
Personagens